Reservas de água do volume morto não matam sede da Sabesp
 
 
25/09/2014

Quatro meses depois que a Sabesp, a empresa fornecedora de água de São Paulo, investiu R$ 80 milhões (US$ 33,6 milhões) para explorar as chamadas reservas do volume morto em seus reservatórios cada vez mais vazios, o estoque de água para a maior metrópole da América do Sul está ainda pior que antes.

A pior seca do Brasil em oito décadas transformou a Cantareira, o sistema formado por quatro reservatórios que abastece metade dos 20 milhões de moradores da grande São Paulo, em um leito seco de terra rachada.

O que resta são piscinas cheias de sedimentos no centro -- o volume morto -- que não podiam ser explorados antes de a Sabesp construir 3 quilômetros de canos para escoar a água.

A manobra deu à Sabesp algum tempo ao ampliar os estoques de água potável em 182,5 bilhões de litros, para quase 27 por cento da capacidade do Cantareira. A Sabesp, formalmente chamada Cia. de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, esperava que a água durasse até que os reservatórios fossem renovados pelas chuvas de verão que tradicionalmente ocorrem de outubro a março.

Não foi o que aconteceu: o sistema Cantareira caiu para 7,6 por cento de sua capacidade ontem, menos que antes do investimento. A Sabesp planeja agora adicionar mais canos para explorar o restante do volume morto.

“Quando o nível está em 10 por cento já é alarmante do ponto de vista técnico”, disse Giuliano Dragone, CEO da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto, em entrevista por telefone. “Estamos em um ponto crítico, retornando ao mesmo lugar onde estávamos”.

Redução nos ratings

Os analistas estão reduzindo seus ratings para a Sabesp e o retorno total das ações, de 24 por cento negativo neste ano, é o pior entre as 31 maiores empresas fornecedoras de água negociadas publicamente no mundo, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Cinco dos 14 analistas que cobrem a empresa indicam a venda de papéis e quatro recomendam mantê-los. Isso contrasta com o início do ano, quando não havia ratings de venda e sete recomendações de compra.

A maior fornecedora de água do Brasil, que é controlada pelo governo do Estado de São Paulo, vem dando descontos aos clientes que reduzem o consumo e está usando água de outros reservatórios para tentar evitar um racionamento.

Com as reservas em queda e os custos crescentes para bombear água do fundo dos reservatórios, os analistas vêm reduzindo as estimativas para a companhia. Os lucros ajustados cairão 26 por cento neste ano, para R$ 1,4 bilhão, segundo a média de oito projeções compiladas pela Bloomberg. A receita cairá 12 por cento.

100 dias

Os órgãos reguladores disseram à companhia em julho que ela corria o risco de ficar sem água dentro de 100 dias a menos que iniciasse um racionamento. Milhares de moradores já estão reclamando de um fluxo menor em suas torneiras nos últimos dois meses.

No mês passado, a Sabesp recebeu aprovação para usar a chamada reserva técnica secundária, uma camada muito profunda de água do Cantareira. A medida adicionaria cerca de 106 bilhões de litros ao sistema, levantando seu nível para cerca de 18 por cento da nova capacidade total, disse a assessoria de imprensa da empresa por e-mail.

“A Sabesp garante o abastecimento de água até março de 2015”, disse a assessoria de imprensa da companhia no e-mail.

A Somar Meteorologia prevê que as chuvas da primavera, estação que começou no dia 22 de setembro, fiquem perto da média na comparação com os níveis históricos, o que não seria suficiente para acabar com a seca ou ajudar a recuperar o sistema Cantareira.

“Para reverter a situação, as chuvas precisariam vir acima da média”, disse Olívia Nunes, meteorologista da Somar. “Para piorar, o consumo de água normalmente aumenta durante os meses de altas temperaturas”.

Fundo do reservatório

Mesmo se as chuvas começarem no mês que vem, o fundo do reservatório que a Sabesp explorou reabsorverá a maior parte da água e não aumentará os níveis do Cantareira não vão aumentar, segundo Michael Gaugler, vice-presidente sênior para pesquisa acionária da Brean Capital LLC em Nova York.

“O pensamento era: você tem um pouco de chuva em setembro e isso deixa o fundo do reservatório pronto para receber água que você pode usar de fato, mas isso não aconteceu”, disse Gaugler, por telefone. “Mesmo se não tivermos um problema em outubro e novembro, a cada dia que passa as chances de retornar ao ponto necessário ficam cada vez piores”.

FONTE: EXAME.COM

 
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